Dia Internacional da Biodiversidade 2025: desafios urgentes e caminhos sustentáveis para o futuro

Hoje, 22 de maio, o mundo celebra o Dia Internacional da Biodiversidade, uma data proclamada pela ONU que vai muito além de uma simples comemoração. É um convite à reflexão. O tema de 2025 “Harmonia com a natureza e desenvolvimento sustentável” nos propõe uma pergunta essencial: como prosperar respeitando os limites do planeta? Como crescer economicamente, tecnologicamente, socialmente sem destruir o que nos mantém vivos?
A celebração deste ano acontece em meio a fortes contrastes. De um lado, os números preocupam. Relatórios recentes apontam que a América Latina lidera a perda global de florestas tropicais primárias, e o Brasil, sozinho, perdeu 2,8 milhões de hectares entre 2023 e 2024. Uma área imensa devastada por incêndios, agravados pela seca extrema e pela intensificação das mudanças climáticas. E não é só isso. A tramitação no Congresso da nova Lei Geral de Licenciamento Ambiental, apelidada de “PL da Devastação”, tem gerado preocupação na comunidade científica e entre ambientalistas. A
proposta pode fragilizar regras de proteção a ecossistemas já ameaçados.
Um estudo recente da UFRJ reforça o alerta: mais de 90% da biodiversidade brasileira poderá ser afetada até 2100 se não contivermos o avanço do aquecimento global. A cada hectare perdido, desaparece um pouco da nossa própria capacidade de viver com qualidade e com equilíbrio.
Diante desse cenário, há sinais positivos de que outro futuro é possível. A bioeconomia surge como um vetor estratégico para conciliar conservação ambiental e desenvolvimento econômico. Trata-se de um modelo produtivo baseado no uso sustentável dos recursos naturais, agregando valor à biodiversidade por meio da biotecnologia, do conhecimento tradicional e da inovação.
Nesse cenário de tantos desafios e também de possibilidades, é impossível ignorar o papel que a propriedade intelectual, especialmente por meio das patentes, pode exercer na valorização da nossa biodiversidade. Quando uma nova enzima, um fitoterápico ou um cosmético natural é desenvolvido a partir dos nossos recursos genéticos, há ali um enorme potencial de transformação científica, econômica e social. Mas para que isso aconteça de forma justa, é preciso estabelecer regras claras, que garantam transparência, segurança jurídica e, principalmente, a repartição justa dos benefícios.
Afinal, esses conhecimentos muitas vezes nascem da relação profunda e ancestral de povos indígenas, comunidades ribeirinhas e tradicionais com os biomas que habitam e cuidam há gerações. Valorizar essa sabedoria, reconhecer esses direitos e garantir que parte dos lucros volte para essas populações não é só uma questão legal, é uma questão de justiça.
No Brasil, a bioeconomia tem tudo para ser um dos caminhos mais promissores rumo a uma nova economia verde, especialmente na Amazônia. Produtos naturais, alimentos funcionais, cosméticos sustentáveis, medicamentos inovadores, tudo isso pode gerar renda, emprego e inclusão social sem derrubar uma única árvore. Mas, para isso, é preciso agir com responsabilidade.
O sistema de patentes, quando usado com ética e consciência, pode ser uma ferramenta poderosa para proteger descobertas, estimular a inovação e garantir que o desenvolvimento científico gere benefícios reais para todos e não apenas para poucos. O cumprimento do Protocolo de Nagoya, aliado às diretrizes da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), é essencial para garantir que a inovação não vire exploração.
Transformar esse potencial em realidade exige um esforço conjunto: políticas públicas de fomento, respeito aos saberes tradicionais, parcerias transparentes entre universidades, empresas e comunidades, e um compromisso firme com a soberania nacional sobre nossos recursos genéticos. A propriedade intelectual não pode ser usada como atalho para a biopirataria ou para a exclusão. Ela precisa ser ponte entre conhecimento e reconhecimento, entre inovação e inclusão, entre a floresta e o futuro.
Nesse cenário, o Brasil terá papel de destaque nas negociações internacionais do clima ao sediar, em novembro de 2025, a COP30 em Belém. Essa será a primeira Conferência das Partes da Convenção do Clima em território amazônico e representa uma oportunidade histórica para colocar a biodiversidade no centro da agenda global de enfrentamento à crise climática.
O governo já anunciou metas ambiciosas: redução de até 67% das emissões de gases de efeito estufa até 2035, além da retomada do controle do desmatamento. O Pacto pela Transformação Ecológica, lançado em 2024, traz a bioeconomia como uma das principais frentes desse novo modelo de desenvolvimento. Contudo, essas metas só terão credibilidade se acompanhadas de ações concretas, como o fortalecimento de órgãos ambientais, o combate à grilagem de terras e o respeito aos direitos dos povos indígenas, que são os maiores guardiões da biodiversidade brasileira.
Preservar a biodiversidade não é só proteger plantas e animais. É cuidar do que sustenta nossa saúde, nossa alimentação, nossa economia e até nossa identidade cultural.
Neste 22 de maio, precisamos ir além do simbolismo da data. Precisamos entender que preservar a biodiversidade é preservar a nós mesmos. Isso exige coragem para fazer escolhas políticas responsáveis, engajamento coletivo e um compromisso com uma economia que regenere em vez de esgotar. Porque ainda há tempo. Ainda é possível reverter perdas, restaurar ecossistemas e construir um futuro em que o progresso caminhe lado a lado com a natureza. Que o Dia da Biodiversidade nos inspire a agir com urgência, mas também com esperança.